segunda-feira, maio 09, 2005

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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O Público dá conta de que as autarquias se preparam para aumentar as tarifas de recolha do lixo, uma vez que os valores cobrados se revelam muito inferiores aos custos efectivamente suportados com aquele serviço.

Estamos tão habituados a ver a Administração, como solução para todos os males, a aumentar os preços dos serviços públicos que talvez a notícia nem mereça destaque. Sucede que o tema da recolha dos lixos domésticos me é caro. Não por ser uma activista de alguma organização ambiental, mas simplesmente na perspectiva de um culto de cidadania que era bom que nos habituassemos a promover.
Na cidade onde vivo vive-se, apesar de tudo, com alguma qualidade de vida. Há mar, bons restaurantes, zonas residenciais de (semi) luxo, metro e razoáveis redes de transportes colectivos. Está colada à zona nobre do Porto e, portanto, a 10 minutos da maioria dos empregos das pessoas que lá vivem. Matosinhos é uma cidade que, apesar dos erros crassos de planeamento urbanistico a que foi sujeita, conseguiu a proeza de não se transformsar num terrível suburbio do Porto e conseguiu até atrair milhares de jovens de níveis socio-culturais elevados.
Para mim, que já vivi em Lisboa e já vivi em Coimbra, o que se passa em Matosinhos em matéria de recolha de lixos domésticos é absolutamente terceiro-mundista e, como tantas outras coisas, indigno de uma cidade da Europa. É verdade que há meia dúzia de contentores espalhados pela cidade, e até são daqueles modernos, para estimular a separação do lixo. Mas como só são meia dúzia, é preciso sempre pegar no carro para chegar ao mais próximo. Como ninguém está para isso, em Matosinhos convive-se bem com esta anormalidade: na falta de caixotes, os ilustres munícipes vêm diariamente - a qualquer hora - poisar o seu saquinho, normalmente aberto, junto da árvore mais à mão, que se encontra normalmente debaixo da janela do respectivo quarto, ao lado dos lugares onde habitualmente estacionam os seus belos automóveis, sem querer saber quando vai ser o dito recolhido. Ou melhor, o que sobrar do dito, depois do ataque dos gatos, dos cães e dos outros bichos que se dedicam a estas coisas.
Estes ilustres munícipes, como eu, têm filhos pequenos, que brincam uns com os outros à porta dos seus prédios. Como eu, recebem amigos para jantar que têm de jogar à macaca para não pôr o pé em nada que suje os seus tapetes. Como eu, estes munícipes, a avaliar pelas roupas que vestem, parecem ter algum sentido estético. Como eu, devem saber que aquele espectáculo nojento é, além do mais, um infecto foco de doenças. Só que eles, ao contrário de mim, vivem bem - desculpem-me o desabafo - na merda.
E deve ser por isso que nem lhes vai ocorrer que têm o direito de exigir às câmaras, antes de elas se atreverem a cobrar mais um cêntimo que seja, um serviço de recolha de lixos civilizado.
-FCP-