segunda-feira, maio 09, 2005

IMAGENS SEM LIVRO

A História, é relatada de acordo com uma selectividade por vezes intrigante. Parece que procuramos a paz com a nossa consciência colectiva, catalogando e ordenando as memórias, da forma mais confortável e menos penosa possível. Parece que a Memória se faz de duas faces - uma iluminada, outra sombria. E que as tendências dominantes vão arrumando os episódios passados, de acordo com uma agenda e um entendimento muito próprio.

Paradigmático disso mesmo, é o que entre nós se diz e escreve sobre as trevas pré-revolucionárias, por contraponto às auroras iluminadas e libertadoras que Abril veio trazer.

A IIª Guerra Mundial, ao contrário do que se pode por vezes fazer crer, não termina com o desembarque na Normandia. O volte face nas operações militares, não fez com que a destruição e o horror dessem lugar a um simpático exército aliado levando uma mensagem de paz e liberdade das praias francesas a Berlim. Libertou-se a Europa do jugo de um ditador sanguinário e seus exércitos, mas, pelo caminho ficam também imagens que não vêm nos livros, de um país brutalizado por actos de violência de uma arbitrariedade confrangedora.

Darmstadt tem na sua cintura indústrial uma forte presença das indústrias química e farmacêutica, com empresas como a Merck, fornecedoras estratégicas do exército alemão, e assim alvos de inquetionável legitimidade.

Mas que ameaças encerravam os seus museus? Que armamento e forças rebeldes abrigava o seu centro histórico? Que planos destruidores se desenhavam nas suas escolas? Que perigos encerravam os seus templos?

São perguntas sem resposta, e imagens sem livro, que a nossa consciência colectiva guarda na face sombria da memória.

-MB-