LEÃO POUCO PARDO
Anda uma discussão nos jornais a propósito de um artigo de opinião no Expresso (sem link disponível) sobre o “Fim dos intelectuais”. Ao que sei, Prado Coelho e Ruben de Carvalho acusaram o toque e rasgaram as vestes em defesa da ideia deles sobre a intelectualidade (de esquerda).
Este conceito de “intelectual de esquerda” servia na minha juventude para catalogar uns colegas mais “estranhos” (os adolescentes podem ser muito injustos) que se caracterizavam por algum desalinho nas indumentárias, algum desalinho no (inexistente) corte de cabelo, mas sobretudo, alguma arrogância e desprezo face às outras formas de estar, quer do ponto de vista da “moda” quer (e isto sim é que é importante) do ponto de vista das ideias, livros, credos, música e gostos desportivos.
Obviamente que não me vou meter em polémicas sérias sobre a intelectualidade, livros, filósofos e cultura. Não o faço porque me considero um pobre mortal, com interesses vários mas sem qualquer veleidade em entrar para o grupo de notáveis que normalmente se envolvem nestas coisas. Digo “normalmente” porque também isso me incomoda: terão de ser sempre os mesmos que os jornais nos “vendem” como intelectuais a discutir estes assuntos? E terão de ter um rótulo para o fazerem? É que podem existir outros, que pensam, reflectem e escrevem mas como não aparecem, não são reconhecidos. E têm um “aspecto” dito normal…
Julgo que nem Prado Coelho é o intelectual por excelência nem é o dono da verdade. E às vezes acerta, justiça lhe seja feita.
Enfim, o que eu queria mesmo dizer é que os “intelectuais de esquerda” do meu liceu de quem falei acima, rapidamente se tornaram em “simples” como eu. Explico-me.
Cortaram o cabelo, têm roupinha com mais símbolos do qualquer uma das minhas camisas (não compro roupa com insígnias há muito tempo), abandonaram a filosofia e até já gostam de Fórmula 1. No fundo eu é que não mudei…
Por não ter mudado é que fui ver (é certo que fui sozinho pois a família não alinha em todos os sons, o que fez e faz mal) um concerto memorável do Rodrigo Leão, na passada sexta feira.
Rodrigo Leão é um dos tais “queridos” pela ditos intelectuais. E por isso (na minha modestíssima opinião) deve provocar alguma desconfiança (as modas, as sensibilidades e os rótulos podem ser muito injustos) nos mais distraídos, mas a verdade é que assisti a um concerto absolutamente espantoso sobre qualquer ponto de vista.
A música é raríssima e no entanto transporta-nos para cenas do “Cinema Paradiso” ou o “Carteiro de Pablo Neruda”. Ao mesmo tempo ouvimos sons de filmes com o Humphrey Bogart e o Mickey Roonie. E ainda se dão gargalhadas a imaginar gaffes num qualquer filme com o Louis de Funès. Damos um passeio pelo que podia ser uma viagem de carro de Brideshead para Oxford com o Jeremy Irons ao volante e ainda passamos por Sevilha ao ouvir o lamento de um amor não inteiramente correspondido, tão comum em Almodovar. Não sei se foi isto que passou pela cabeça do Rodrigo Leão mas a mim foram despertados estes bons sentimentos. Em suma, um conjunto de sons fantásticos. Mesmo para um leigo.
E lá vi alguns jovens com o aspecto que descrevi no princípio deste post: algum desalinho estudado, uma ou outra carteira a tiracolo, aqui e ali tabaco de enrolar.
Este conceito de “intelectual de esquerda” servia na minha juventude para catalogar uns colegas mais “estranhos” (os adolescentes podem ser muito injustos) que se caracterizavam por algum desalinho nas indumentárias, algum desalinho no (inexistente) corte de cabelo, mas sobretudo, alguma arrogância e desprezo face às outras formas de estar, quer do ponto de vista da “moda” quer (e isto sim é que é importante) do ponto de vista das ideias, livros, credos, música e gostos desportivos.
Obviamente que não me vou meter em polémicas sérias sobre a intelectualidade, livros, filósofos e cultura. Não o faço porque me considero um pobre mortal, com interesses vários mas sem qualquer veleidade em entrar para o grupo de notáveis que normalmente se envolvem nestas coisas. Digo “normalmente” porque também isso me incomoda: terão de ser sempre os mesmos que os jornais nos “vendem” como intelectuais a discutir estes assuntos? E terão de ter um rótulo para o fazerem? É que podem existir outros, que pensam, reflectem e escrevem mas como não aparecem, não são reconhecidos. E têm um “aspecto” dito normal…
Julgo que nem Prado Coelho é o intelectual por excelência nem é o dono da verdade. E às vezes acerta, justiça lhe seja feita.
Enfim, o que eu queria mesmo dizer é que os “intelectuais de esquerda” do meu liceu de quem falei acima, rapidamente se tornaram em “simples” como eu. Explico-me.
Cortaram o cabelo, têm roupinha com mais símbolos do qualquer uma das minhas camisas (não compro roupa com insígnias há muito tempo), abandonaram a filosofia e até já gostam de Fórmula 1. No fundo eu é que não mudei…
Por não ter mudado é que fui ver (é certo que fui sozinho pois a família não alinha em todos os sons, o que fez e faz mal) um concerto memorável do Rodrigo Leão, na passada sexta feira.
Rodrigo Leão é um dos tais “queridos” pela ditos intelectuais. E por isso (na minha modestíssima opinião) deve provocar alguma desconfiança (as modas, as sensibilidades e os rótulos podem ser muito injustos) nos mais distraídos, mas a verdade é que assisti a um concerto absolutamente espantoso sobre qualquer ponto de vista.
A música é raríssima e no entanto transporta-nos para cenas do “Cinema Paradiso” ou o “Carteiro de Pablo Neruda”. Ao mesmo tempo ouvimos sons de filmes com o Humphrey Bogart e o Mickey Roonie. E ainda se dão gargalhadas a imaginar gaffes num qualquer filme com o Louis de Funès. Damos um passeio pelo que podia ser uma viagem de carro de Brideshead para Oxford com o Jeremy Irons ao volante e ainda passamos por Sevilha ao ouvir o lamento de um amor não inteiramente correspondido, tão comum em Almodovar. Não sei se foi isto que passou pela cabeça do Rodrigo Leão mas a mim foram despertados estes bons sentimentos. Em suma, um conjunto de sons fantásticos. Mesmo para um leigo.
E lá vi alguns jovens com o aspecto que descrevi no princípio deste post: algum desalinho estudado, uma ou outra carteira a tiracolo, aqui e ali tabaco de enrolar.
Mas também reconheci gente do meu tempo. Como mudaram! Trintões como eu apertando efusivamente as correias dos Rolex e com as chaves dos Audis na mão. Uns são médicos. Outros pedagogos. Mas todos com a barbinha feita. Só eu é que não mudei: continuo sem usar relógio e a ser gestor. E de vez em quando ainda cito de cor Eça de Queirós. Mas lido na altura certa: aos 15 e revisto aos 25, quando a maturidade já deixava apreciar as coisas de outra maneira. Chique a valer, está bom de ver.
Uma palavra para a voz de Ana Vieira. Trata-se da prova viva de que há vozes em Portugal que podem fazer sucesso em qualquer parte do mundo em que a crítica é impiedosa. O espectáculo que vi podia ter-se passado numa grande sala em New York, Paris ou Londres. Mas foi mesmo no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
Excelente, mesmo para não intelectuais.
Uma palavra para a voz de Ana Vieira. Trata-se da prova viva de que há vozes em Portugal que podem fazer sucesso em qualquer parte do mundo em que a crítica é impiedosa. O espectáculo que vi podia ter-se passado numa grande sala em New York, Paris ou Londres. Mas foi mesmo no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz.
Excelente, mesmo para não intelectuais.
-GLX-
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home