sexta-feira, agosto 19, 2005

OS DITÂMES DA ICAR - OU A TESE DO AVENTAL

O CAA pode não ser Católico. Bem vistas as coisas, tal facto até lhe facilita a vida, uma vez que desta forma não vê recair sobre ele o dever de levar aos outros, através do esforço do seu exemplo, a mensagem de Cristo.
Independentemente da opinião do CAA relativa à mensagem de Cristo, stricto senso, o facto é que a ICAR, aparentemente, lhe provoca um determinado tipo de reacção cutânea, manifestamente deslocada.
Cada um segue as vestes que entende. No caso do CAA, as da Igreja não são, definitivamente, as preferidas. Ignora, porventura, que a Igreja não se resume a uma hierarquia clerical, pelo contrário, é feita de homens e mulheres livres, que, livremente, se comprometem perante Deus e a Igreja (i.e. todos os Católicos) a prosseguir um determinado modo de vida.
Independentemente do carácter demasiado "mistificador" (em minha opinião) de eventos como as Jornadas Mundiais da Juventude - onde admito poder ser difícil a cada um individualmente escutar e viver a sua relação com Deus -, estas são um exemplo de mobilização pessoal e adesão crítica a uma organização - obviamente terrena - como a ICAR.

Ou não!?

E CAA prossegue: «A significação católica da expressão "sentido religioso" recusa, por princípio, a motivação individual como elemento básico da relação com o sagrado preterindo-o em prol da intermediação, feita incontornável, de uma estrutura administrativa, i.e. a ICAR.»

Meu Caro CAA: a relação com o sagrado, tal qual os Católicos Apostólicos Romanos a entendem, não se faz às escondidas, não é como "fumar uma broca" nas traseiras e ficar pedrado, a sós, com o êxtase. Se bem que na sua raíz está um profundo encontro intímo com um desafio que entendemos abraçar, o sentido religioso é vivido não na intermediação, mas na comunhão universal, entre Deus e os Homens. Isto é: a igreja.

Ou não!?

CAA: «A ética católica é avessa ao individualismo, subalternizando ou, até, asfixiando, se o clima for propício, as manifestações do singular preferindo a exaltação das virtudes do conjunto uniforme.»

Caro CAA, não tenho agora tempo para porfiar de forma exaustiva (e sei que a sua bagagem cultural mo dispensa) nomes de Santas, Santos, Mártires e Beatos da Igreja Católica. Todos são, sem exepção, exemplos de manifestações no singular, as únicas aliás, mediadoras do acesso à santidade - o objectivo último que cada cristão é convidado a atingir. Julgo que o contraste com sua afirmação é esclarecedor.

CAA: «Ser católico significa, antes de tudo o mais, a submissão à ICAR; a diluição do indivíduo na massa dos "fieis" seguidores dos dogmas e das regras comportamentais impostos de fora para dentro - todos insindicáveis, claro.»

Caro CAA, a ICAR, como espaço de comunhão dos Homens com o seu Deus, apesar da forte componente transcendental que comporta nos mais variados artefactos da sua cultura, é um espaço de contínuo diálogo e participação. Esta abertura a leigos, crentes, não crentes, não baptizados, ateus, e a crentes de diferentes religiões, enforma uma dimensão de peregrinação, com inércia (natural, inevitável, e porventura desejável), é bom de ver, mas própria de uma instituição em movimento e modernização. Por muito que alguns discordem, a ICAR não é uma organização de venda nos olhos e espada apontada ao pescoço, é uma comunhão de pessoas, que diáriamente questiona as suas convicções e a verdade da sua existência, tão simplesmente pela exigência que colocam a si próprias.

CAA: « E os resultados dessa reflexão são nada menos do que catastróficos: a luta pela Liberdade fez-se quase sempre contra o poder da ICAR ou venceu-se apesar da oposição desta.»

Caro CAA: Três palavras - Karol Józef Wojtyła.

Ou não!?

CAA: «Quanto mais poderoso for um Estado no que toca à facilidade de imposição de condutas aos cidadãos, mais desimpedido está o caminho da ICAR para conseguir os seus intentos através da conquista de posições de influência no aparelho desse mesmo Estado.»

Caro CAA, não confunda vertigem de imposição de comportamentos com defesa de valores, e muito menos com o dever de todo o católico participar de forma activa e esclarecida na construção da sociedade. Sem impôr os seus pontos de vista, ao mesmo tempo que os não pode ignorar enquanto matriz orientadora da sua acção. E o argumento do poderio estatal como facilitador da tarefa da igreja não esbarra com o número de sacerdotes perseguidos e assassinados na ex-união soviética, ou com isto:

Esbarra não esbarra!?

Caro CAA, percebo que não seja católico, até era capaz de aceitar que sendo crente, se sentisse, como tantos outros, momentâneamente afastado da igreja e desiludido com as falhas dos homens que a compõe.

O que me parece inaceitável, em toda a sua exposição, é a tentativa de menorização intelectual de milhões de fiéis que, acredite ou não, vivem uma intensa relação com Deus, em comunhão com a igreja. Aceitaram o mais exigente dos desafios - Ser exemplo vivo da mensagem de Jesus Cristo.

E isso, caro CAA, não estando ao alcance de todos, não justifica uma predisposição visceral para com os que se aventuram num caminho difícil, tantas vezes assaltados por dúvidas, carregados de falhas e desvios ao caminho - mas que ensinam tantas vezes pelo exemplo: A infelicidade não está no facto de falharmos ou caírmos, está em virarmos costas à Fé que nos dá força para levantar.

Estimo-lhe um rápido restabelecimento das agruras estomacais por que foi tomado.

-MB-

1 Comments:

Blogger No Quinto said...

GRANDE post Miguel.
FA

3:36 da tarde  

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