sexta-feira, julho 22, 2005

MAIS DIFERENÇAS ESSENCIAIS

Em mais uma brilhante lição sobre o que é não ser liberal, João Miranda escreve aqui que a direita liberal se aproxima do socialismo quando é "pelo aborto, se for homofila, se for pela estatização e descaracterização do casamento, se for cosmopolita e se for contra a igreja e as tradições". Na sua opinião, tudo isto são problemas da esfera privada de cada um. Não são problemas políticos.
É evidente que nós (os que nos supomos liberais) não temos nada que ver com a sexualidade dele. Com o seu modelo de planeamento familiar. Com os métodos contraceptivos que utiliza. Com a forma (jurídica ou outra) que dá à sua vida sentimental. Com as suas convicções religiosas ou com a falta delas. Com o seu provincianismo ou com o seu conhecimento do mundo. Com o sítio onde passa o Natal ou com a ementa lá de casa para o almoço de Ano Novo.
E para que conste, não nos sentimos mais liberais por nos desinteressarmos completamente da vida privada do João Miranda.
Já, pelo contrário, a mim, pessoalmente, incomoda-me o facto de o Estado não pensar como nós. Chateia-me que seja um tribunal a dizer se ele pode ou não desfazer um contrato tão privado como o casamento. Irrita-me que as amigas dele possam ir para a cadeia por terem abortado. Passo-me por saber que o Estado quer normalizar os comportamentos sexuais de todas as pessoas que ele conhece. Fico doente por saber que a paternalista Assembleia da República o quer tanto proteger dele próprio que não só o obriga a pagar uma coima se ele fumar uma ganza e o manda para a pildra se o pó for branco como ainda lhe recomenda um tratamento. Maça-me que os filhos dele aprendam na escola pública um qualquer modelo de sexualidade, ao mesmo tempo que lhes ensinam a catequese.
Mas claro, isto sou eu, que sou socialista. Ele, que é o verdaeiro liberal, não se importa.
-FCP-

2 Comments:

Blogger JoaoMiranda said...

Concordamos então que um liberal pode ter opiniões ultramontanas em matéria de costumes sem entrar em contradição?

JoãoMiranda

2:27 da tarde  
Blogger E depois do adeus... said...

Pode ter as opiniões que lhe apetecer, se só forem as suas e se não as quiser impor a ninguém através do Estado. E pode fazer da sua vida o que bem entender. E até pode pregar na catequese, na família ou no café. Não pode é usar o Estado, a política ou os partidos para impor aos outros os seus modelos.
Caso contrário, não vejo como evita a contradição.
Cumprimentos e obrigada,
FCP

7:32 da tarde  

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