terça-feira, julho 19, 2005

DIFERENÇAS ESSENCIAIS

Em tempos, temendo que o debate sobre uma direita liberal que parece estar a emergir se convertesse numa picardia infindável entre pseudo puristas sectários e outros apenas motivados pelas suas legítimas e saudáveis convicções políticas e cívicas, apelei a que nos concentrássemos naquilo que considerei essencial: a discussão das ideias e do projecto, descurando - ao menos por ora - o julgamento sobre os seus protagonistas.
Ao que parece, apesar de o risco ter sido bem antevisto, não fui a tempo.
As reacções a esse apelo - e o empolgamento com que foi contestado, como se se tratasse de uma questão pessoal - logo mostraram que a batalha da direita liberal politica e democraticamente empenhada será uma batalha sem tréguas.
Percebo hoje porquê. Existem de facto diferenças essenciais entre os promotores e simpatizantes do movimento "Noites à Direita" e os que a ele reagiram através da criação de espaços pretensamente paralelos.
Não se trata, como cheguei a supor, e usando a feliz imagem do AMN, de uma espécie de alergia destes últimos à massificação da ideia liberal, qual banda de garagem que, quando vende mais de 100 discos, se desagrega - embora o objectivo deles não seja compatível com a diversidade. Eles também não têm propriamente um problema com o formato ou com a agenda desta Direita Liberal - embora não hesitem em nos tentar impor as regras do seu pequeno clube (ver os comentários).
Nada disso. Eles querem, como nós, que a ideia se divulgue. Eles querem, como nós, que a ideia influencie e presida às opções de quem governa. Mas suspeito que o que os move não é nem uma ideia para o país nem uma convicção a impor no combate político. Eles movem-se por eles próprios. É por isso que não podem ser muitos. É por isso que não podem ser abrangentes.
Já nós - ao contrário deles - bem sabemos que em democracia não mandam os iluminados. Mandam os que votam. Mesmo quando votam mal.
Nós, ao contrário deles, aceitamos as regras. Mesmo as dos partidos, com as quais tantas vezes discordamos. Mas nós, ao contrário deles, preferimos partidos piores a partidos nenhuns.É por isso que não batemos a porta quando perdemos um combate. É por isso que não nos comportamos como os garotos que agarram na bola e acabam com o jogo só porque estão a perder. Não fazemos partidos novos. Não atacamos quem discorda de nós como se nos tivesse torturado os filhos. Aceitamos o mérito dos que ganham - mesmo que achemos o resultado um crime de lesa pátria - sem os insultar. Não os invejamos (ver o último ponto do Post Scriptum). Não usamos os blogs para destilar ódio (comentários no fim da página) e sarcasmo contra as pessoas sérias que, diariamente empenham o seu indiscutível prestígio e superioridade - mesmo sem merecerem um Nobel (à cautela, dê-lhe um xarope, Diogo, mas desconfio que nada resolve esta patologia) - em nome de uma ideia.
Também não nos calamos. Por sabermos que os partidos são apenas um instrumento - embora um instrumento indispensável - estamos a tentar influenciá-los. Aos partidos e às pessoas que votam neles. Democraticamente. De forma realista e de forma plural.
Ao contrário de nós, eles não querem convencer ninguém. Eles querem mudar as regras. Querem ser eles a mandar, mas não em democracia. Sem eleições e sem partidos. Está visto que de outra forma não é possível.
-FCP-

5 Comments:

Blogger RAF said...

Filipa,

Ensandeceste de vez, ou é só passageiro????

6:38 da tarde  
Blogger André Azevedo Alves said...

Hmmm?

10:11 da tarde  
Blogger Salvador said...

parece-me que as coisas, com o último post do PPM, estavam compostas... mas agora a FCP escreve um post só para acusar os blasfemos de quererem, apenas e só, protagonismo pessoal... assim não vamos sair disto.

era necessário discutir ideias, não isto.

2:53 da manhã  
Blogger CAA said...

A assunção nominativa de "Salvador" tem alguma relação com a foto do defunto que ilustra o comentário?
O pobre húngaro também é um mártir do liberalismo?

8:43 da manhã  
Blogger T. M. said...

Muito bom texto. Muito lucido. E intelectualmente honesto, o que vai faltando por ai... e ajudando a por alguma esquerda a rir desta estupida batalha para ver quem e' o "verdadeiro" liberal, quase como se do Sagrado Graal se tratasse...

5:49 da tarde  

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