terça-feira, junho 07, 2005

JÁ SE ACORDAVA A MALTA, NÃO?

É evidente que alguma coisa muito estranha se passa neste país: temos das mais altas taxas de impostos em toda a Europa; pagamos quase todos os serviços públicos que, tradicionalmente, o Estado devia prestar gratuitamente; fartamo-nos de vender património para aumentar a receita e...ano após ano, o défice aumenta. Nos últimos tempos, nem sequer se pode dizer que o investimento público seja relevante: há quanto tempo não se constroi um novo hospital ou uma nova escola? Que redes rodoviárias foram incrementadas sem recurso aos privados? Não percebo que raio de projecto nacional é este, em que tudo piora dia após dia, e ninguém se indigna.
O caso do dia de hoje é paradigmático: pelo 3º ano consecutivo, o país assiste, passivamente, à destruição das nossas florestas. Triunfante, o fogo avança, comendo árvores, ameaçando populações, pondo em causa o escasso sustento de quem vive da terra.
Nem discuto a qualidade - ou sequer a existência - do programa de prevenção aos incêndios. Manifestamente é insuficiente. O que me atormenta é pensar que o Estado, pelo 3º ano consecutivo, não dispõe de meios eficazes de combate aos fogos. Once again, são as máquinas dos privados, os bombeiros voluntários, os braços populares que se empenham nessa luta infernal. Não me canso de achar que o que os move é um sentimento de pertença que este Estado, assim organizado, jamais será capaz de nutrir pelo que quer que seja.
Portanto, o Governo encara estas coisas como mais uma pequenas crise política que, politicamente, é preciso gerir, minorando o estrago político. Preparemo-nos: o problema dos incêndios, daqui até Setembro, há-de ser - a par com a moralização dos rendimentos dos políticos - o grande desígnio nacional.
Como é certo que o que vamos poupar com a eliminação das reformas dos deputados, dos governadores do Banco de Portugal, dos diplomatas e de outros quejandos, não é sequer suficiente para pagar a alguém para pensar numa forma de resolver este crónico problema do quanto mais tens, mais deves (verdadeiro milagre da multiplicação da dívida) - ou sequer para que alguém se dedique a pensar numa solução para o problema dos fogos, o que até há-de ser mais bartato - , é certo também que no próximo Verão vai estar tudo na mesma.
Talvez só com pequenas diferenças: os impostos voltaram a subir, o vencimento dos deputados foi reduzido, o peso do Estado na economia aumentou um pouco mais, cresceu a área ardida e as sondagens dão significativo crescimento das intenções de voto no PS.
Continuo na minha: é um país com classe, este nosso.

-FCP-