sexta-feira, junho 03, 2005

ORGULHO NACIONAL

Tenho um problema visceral com medidas populistas e demagógicas. E indigna-me profundamente o nível a que chegou o debate político em Portugal. Subitamente, todos decidiram praguejar - e pretexto do défice - contra as regalias dos políticos. A ideia não é original, mas estávamos habituados a que ela fosse veiculada por gente absolutamente desqualificada. Entretanto defunta, por sinal.
Por um lado, temos o Governo a propor a extinção do direito às reformas dos deputados. Coisa cujo impacto, como é bom de ver, nos há-de salvar da bancarrota. Donde terá saído a peregrina ideia de que um cidadão competente, inteligente, as mais das vezes bem sucedido na sua vida profissional, quando se dedica à causa pública, o tem de fazer com espírito de sacríficio, numa espécie de voto de pobreza? Que raio de mentalidade é esta de que os políticos têm de dar o exemplo, e de aceitar viver modestamente como os seus eleitores? Repugnante, esta coisa tão em voga, do nivelamento por baixo.
Desculpem, estarei a ser naif. Mas não era muito mais interessante gastarmos o nosso tempo a discutir como é que transformamos a economia nacional numa economia verdadeiramente competitiva? Ou que modelo global queremos de redistribuiçao da riqueza, em vez de andarmos a discutir os trocos de meia duzia?
Acho que os políticos devem ganhar bem, precisamente porque não vejo outra forma de garantir a sua independência. Se isso torna a política num negócio rentável, cabe à opinião pública e ao eleitorado tornar-se exigente na escolha dos seus representantes. Mas qual quê. Massa crítica é o bem mais escasso dos recursos nacionais. Bem ao género da nossa mesquinhez e da da nossa mediocridade, fazemos de conta que eles não foram escolhidos por nós, que não tivemos essa responsabilidade, e dizemos-lhes: vocês são uns parasitas, não sabem fazer nada de útil, vivem à conta dos nossos impostos e portanto acabou-se a mama.
Por outro lado, instalou-se a suspeição geral sobre os políticos.Basicamente, não servem para mais nada. Geriram autarquias, governaram o país, têm experiência. Mas não prestam. Deviam ficar condenados a passar o resto da vida a lavar escadas ou a recolher lixo. São evidentemente incompetentes. É uma espécie de registo criminal que nunca se apaga. Uma inilidivel presunção de ineptidão. Que diabo, o país está de pernas para o ar, quero lá saber quem é o gestor da Galp. Mas o PS agradece. Enquanto se combate a "classe política", os impostos aumentam, o Estado cresce, os fundos comunitários diminuem, o país embobrece. Um país com classe, este nosso.
- FCP-

1 Comments:

Blogger RAF said...

Diz que "quer lá saber quem é o administradoer sa GALP".

Mas devia. A GALP é uma das maioress empresas nas mãos do Estado, responsável pelo pagamento de dividendos com um peso significativo no Orçamento do Estado. A não realização da venda da GALP à Petrocer é uma das principais causas do défice potencial que foi calculado para 2005. E não é uma questão de suspeição que se discute: mas para gerir uma empresa como a GALP são necessárias competências. Fernando Gomes, Luis Nazaré e outros nunca chegariam a uma fase final de um processo de recrutamento conduzida por um head-hubter privado. Esse é que é o problema.

6:02 da tarde  

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