quarta-feira, agosto 17, 2005

ASSIM SENDO

A situação não se apresenta nada fácil, e as últimas notícias (aqui e aqui), não permitem grandes auspícios.
O desequilibrio na balança comercial nacional, é por si só nota de preocupação, mas se atentarmos ao facto da exportações do sector calçado e vestuário contribuir ainda em cerca 10% do valor total exportado, os motivos de inquietação ganham outra dimensão assim que olhamos para o continente asiático.
Vamos por isso assistir ao agravar da situação global. E se o sector não for capaz de se modernizar, assegurar as actividades de maior valor acrescentado e apresentar elementos claramente diferenciadores, estará irremediavelmente condenado.
O sector automóvel, na força dos seus 17% de exportações, é definitivamente estratégico para Portugal. Notícias de abandono, ou menor interesse dos maiores investidores estrangeiros no nosso país, devem ser escutadas com todo o cuidado. O facto de continuarmos a não oferecer uma força de trabalho fléxivel e qualificada, bem como a "perda de face" do país perante os investidores ao não reduzir, conforme prometido, a taxa de IRC, podem hipotecar o futuro do sector.

Os nossos empresários do sector têm de afirmar a sua ambição, não basta, hoje, manter actividades no cluster, as empresas portuguesas têm de ser capazes de se afirmar nas cadeias logísticas globais das grandes empresas do sector - e isso, mais uma vez, só se consegue com uma força de trabalho qualificada e flexível, e com a aposta na inovação.

Há bem pouco tempo, o Prof. Daniel Bessa, defendia e bem, que o défice da balança comercial era mais difícil de combater do que o défice público, e argumentava que "a única forma de resolver o problema é as empresas nacionais centrarem-se na produção de bens transaccionáveis para exportação, deixando de dirigir os seus investimentos para o mercado interno."

A todas estas notas acresce uma outra, orientada às importações - o preço do petróleo. Não bastasse a aparente crescente depêndencia do exterior em produtos agrícolas, alimentares e químicos, os máximos históricos do preço do petróleo vêm contribuir ainda mais para o afundar deste desequilíbrio. A indústria transportadora já veio chorar custos de exploração na ordem dos 30% devido aos combustíveis. Sem razão, a meu ver. Perderam durante anos a oportunidade de modernizar frotas e apostar nas eficiências ecológica, energética e operacional. Os privados em particular vivem há décadas ancorados no estado. Não se podem queixar deste. Apenas de si próprios, da sua incapacidade de visão, antecipação e aposta.

Os números do desemprego teimam em não retroceder. A este respeito, no entanto, gostaria de questionar a dimensão destes números, confrontando-os com as repetidas notícias de dificuldades em recrutar junto dos centros de emprego. Será aceitável, assistir vezes sem conta a empresários afirmar que se encerram linhas de produção uma vez que as pessoas preferem o subsidio de desemprego a uma situação de emprego, comparativamente, menos favorável? Uma fiscalização mais apertada destas situações, poderá não reduzir o problema a uma dimensão menos preocupante, mas restaura a confiança e a justiça no sistema. O que já não é mau. Mesmo nada mau.

Assim sendo: ainda bem que estamos na silly season, e o país a banhos, sem querer saber de mais nada. Caso contrário, dado o panorama, ainda alguém tinha a peregrina ideia de pedir ao governo ajudas, subsídios e medidas perante a situação. Aí sim, estariamos defenitivamente perdidos. Agora, assim, ainda podemos ter a esperança de que quem pode de facto fazer alguma coisa, o faça - os empresários, os homens e as mulheres de Portugal. Todos. Sem o Estado a incomodar. De preferência.

-MB-