quarta-feira, maio 11, 2005

UMA CASA NA PRADARIA, VERSÃO 2

Enquanto cidadã, também eu acho lamentavel que os casos sensiveis da justiça cheguem ao conhecimento dos jornalistas de modo truncado, num momento em que os processos se encontram em segredo de justiça e em que é ilegal o seu esclarecimento oficial. Como jurista, tenho imensas dúvidas sobre as vantagens de um sistema em que, quanto maior for a pressão da opinião pública, maior é a reserva em que decorrem os julgamentos.
Mas não posso concordar com quem pretende reduzir a importância do caso dos sobreiros às fontes anónimas de um órgão de comunicação social. Num país em que a imprensa é livre, não vejo como possa condenar-se eticamente a SIC pela divulgação da notícia, ainda que em exclusivo. Também não aceito que se condene genericamente o sistema, como se não bastasse um só funcionário judicial para divulgar o que, face à lei, não é suposto saber-se. Ponto é que, em casos destes, o sistema funcione, e puna - já se exije que de forma exemplar - o culpado por tal divulgação.
Mas vamos ser sérios: o que conta realmente neste caso não é a quebra do segredo, são os factos, indesmentiveis, que deixaram de ser secretos. E quanto a esses, a única coisa que sabemos é que 2 figuras públicas, uma delas ex-governante, se encontram indiciadas pelo crime de tráfico de influências.

Como não sabemos mais, resta-nos aguardar, num prudente silêncio. É isso que se impõe a quem deplora julgamentos populares ou a quem acredita na presunção de inocência. Mas nada de ilusões: se se provar a prática de um crime no exercício de cargos políticos, sejam quem forem os seus agentes e sejam quais forem as suas afiliações, o silêncio - pelo menos o meu - será provisório. E parece-me que é este o dever de qualquer cidadão.
-FCP-

6 Comments:

Blogger Miguel Soares said...

Concordo plenamente com o que a Filipa escreveu. Prudência é o que se pede neste momento, quando já há os "tradicionais" julgamentos populares/mediáticos sobre os indiciados.
Temos que ter paciência e saber esperar pelo normal funcionamento da Justiça.
Depois de esta funcionar sem pressões, sem mais fugas de informação e chegar a uma conclusão, logo saberemos o que, verdadeiramente, aconteceu e poderemos reflectir sobre isso.
Miguel Soares

6:54 da tarde  
Blogger E depois do adeus... said...

Já estava a demorar!!!!

Não intrepretando do teu post um desacordo total com o que escrevi "em antes", permitia-me propor uma chave de leitura dos meus posts:
- partilho das tuas duvidas relativas às vantagens de um sistema no qual a pressão da opinião pública seja proporcional à reserva dos julgamentos, no entanto é o sistema que temos e é à luz deste sistema que as sucessivas quebras do segredo de justiça se tornam pornográficas.
- A SIC, é uma empresa privada, faz o que quer do seu tempo e dinheiro, desde que dentro da lei(isto no caso de pagar os exclusivos, se assim não for menos importante ainda - é legal pagar para ter informações?). Daí a caricatura das camaras de turtura
- Uma andorinha não faz a primavera, bem sei... Mas o que se passa em torno do sistema judicial portugês não é como nos anuncios do Modelo, em que temos apenas "A Manela do Montijo, O Sr. Santos de Beja, a Júlia de Lagos, e o Tiago de Bragança"! É um numero sem fim de episódios, que começa a fazer regra. Bem sei que é um exagero, mas não deixa de ser uma leitura passivel de ser feita por quem como eu não pertence ao sistema. E lá está se o sistema quer ser respeitado por quem, como eu, está de fora...tem que se dar ao respeito.
- Quanto ao mais, tens toda a razão, aguardar em prudente silêncio...mas assegurando que não nos vamos calar...
Grusse,
Miguel.

6:55 da tarde  
Blogger E depois do adeus... said...

Bah... Não sei o que a SIC pagou, nem sei se pagou alguma coisa. Sei apenas que quem forneceu a informação, directa ou indirectamente, não o fez de forma legal. Mas isso não pode pôr em causa o sistema judicial. Dava no mesmo que dizer: há n mil presos em Portugal por crimes relacionados com drogas, logo, Portugal é um país de drogados.
Os sucessivos episódios de violação do segredo de justiça, na minha opinião, só revelam duas coisas: que o segredo de justiça é uma treta, e que a pressão da opinião pública para saber quem é arguido e porquê é enorme. Ora, como sabes, quando há muita pressão à volta de um segredo, ele deixa inelutavelmente de ser segredo.
E sei também que neste caso, infelizmente, isso é o menos importante. Era esse o meu ponto.
Beijos,
Filipa

7:16 da tarde  
Blogger E depois do adeus... said...

Aguardente!? Entendi perfeitamente!!!
Grusse,
Miguel.

8:55 da manhã  
Blogger JMTeles da Silva said...

Desta vez concordo consigo Filipa.

3:55 da tarde  
Blogger E depois do adeus... said...

Thanks. Em contrapartida, já fiz o link para o seu blog. Injustiça reparada. obrigada pela sua participação.
FCP

1:03 da manhã  

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