terça-feira, maio 17, 2005

SHINE… AGAIN



História bizarra a que acabo de saber…

A polícia inglesa encontrou este rapaz numa ilha (Sheppey), elegantemente vestido (apesar de não se encontrar nenhuma etiqueta nas roupas que usava) e com a mente destroçada.

Não fala desde que foi encontrado e os seus gestos evidenciam o medo e o desconforto que sente.

Internado num hospital psiquiátrico, o único gesto revelador que teve ocorreu somente quando alguém do hospital teve a brilhante ideia de o deixar sozinho com um papel e um lápis. Emergiu então o primeiro indício intrigante: um esboço detalhado de um piano de cauda.

Não fala… Mas, quando foi levado pela equipa que o acompanha ao piano da capela do hospital, tocou piano durante horas e parece fazê-lo maravilhosamente. Pela primeira vez, pareceu calmo e relaxado, como se tivesse regressado a casa.

Não fala… Mas é óbvio que o piano diz alguma coisa por ele, apesar de não ser propriamente o que os terapeutas precisam para realizar o seu trabalho.

Nas seguintes semanas, o “Homem Piano” retornou regularmente à capela. Tocou o Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, mas parece preferir executar o que parecem ser suas próprias composições, que foram comparadas ao trabalho do compositor italiano Ludovico Einaudi.

Pelo que me apercebi (pelo que li aqui e aqui), muito se tem especulado sobre o “Homem Piano”, nomeadamente sobre o facto de, apesar de parecer ter perdido a memória, se recordar de elaboradas peças musicais.

A mim, assumido leigo na matéria, parece-me que o “Homem Piano” decidiu falar apenas com a ajuda do piano, decidiu esquecer-se de muitas coisas para recordar apenas algumas. Por cima dos palpáveis traumas e sofrimentos que parece ocultar, decidiu ser somente de uma maneira, na linha de muitos artistas que cobrem com a imaginação maravilhosa das suas criações o poço negro da sua dor, da sua miséria ou da sua culpa. Parece querer ser reconhecido por todos apenas pelas maravilhas que oferece… E só dessa forma deixa que entrem no seu mundo. No poço, não entra ninguém.

É um pouco como na rua, como na vida… Apesar da psicose colectiva e dos milhões de outros mundos em que milhões de pessoas escolheram viver, todos nos sentamos na esplanada e pedimos um café.

Uma história a seguir…
-ZPA-