CAGÕES
Os resultados da eleição de domingo passado aqui na Alemanha, os resultados do Referendo ao Projecto de Constituição Europeia em França, os resultados das Eleições Legislativas antecipadas de Fevereiro último em Portugal, e os resultados das últimas Legislativas em Espanha, demonstram cabalmente que a Europa é hoje, um continente de Cagões.
Para quem nos lê abaixo do Mondego, convém esclarecer o que significa o termo "Cagão" quando invocado pelas gentes que vivem e cresceram acima do referido curso fluvial. Cagão é aquele que perante situações limite ou de grande delicadeza, evita assumir uma posição, que vive na indefinição e descomprometimento completo com tudo e todos, ou que se atemoriza perante a mudança preferindo fazer de conta que tudo se mantém inalterado, é em suma um Cagão, aquele com quem não se pode contar.
Vivemos numa Europa de Cagões, agarrados a uma ideia de continente que não é mais do que um cadáver em avançado estado de decomposição.
Estes Cagões são de tal forma avessos ao risco que impedem toda e qualquer esperança de mudança e prosperidade. O Cagão está habituado a viver de favores de terceiros, neste caso particular, do chamado "Estado Social" ou "Estado Providência", agarra-se a ele como lapa a rocha na praia de Carreiros. Enquanto o estado ia aguentando, menos mal, mas a situação começa a ser demasiado insustentavél, e os Cagões começam a fazer mais estragos do que nunca.
O que se passou no domingo aqui na Alemanha foi mais do mesmo, como sempre, quando na vertigem de ter de optar entre dois projectos de sociedade tão diferenciados o Cagão entra em pânico e não compromete.
Domingo visitei o Salão Automóvel de Frankfurt, e por ironia, assisti às primeiras projecções dos resultados eleitorais quando visitava o stand da Mercedes (um pavilhão com três andares também se chama stand?). Um vasto grupo em torno de um ecrãn gigante, bem composto, executivos, gestores de vendas, engenheiros, muitos visitantes. Sai o primeiro resultado, e logo duas reacções - quem, aparentemente, vive da empresa e do esforço, ficou desolado. Por outro lado, os muitos cagões que lá estavam, sorriram e saíram "de fininho". Razão teve um rapaz que estava ao meu lado, depois de um dia inteiro a trabalhar e a aturar Cagões, soltou um potente: "Scheisse!".
-MB-
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